sábado, 17 de julho de 2010

Cyberbullying: consequências ao trabalho docente.


O mundo virtual nos últimos anos, virou o lugar mais fácil para tornar públicos imagens e comentários depreciativos, usando para isso blogs, fotologs e redes sociais para expressar ódio, violência a professores. No Orkut essa prática é bastante comum. Comunidades são criadas onde são expostas críticas e rejeição a um determinado professor. Nelas alunos busca ofender e ridicularizar a figura do docente, usando imagens de animais (burro, macaco), bruxas, caveiras ou até mesmo com algum desenho pornográfico. Nas redes sociais do Orkut eles encontram um canal extremamente eficiente para poder extravasar suas desilusões, alegrias, frustrações e, principalmente, ódio e ressentimento com relação a uma nota baixa que tirou em alguma avaliação da aprendizagem.
Nas comunidades, fotos de professores recebem efeitos especiais negativos, internautas de maneira anônima ou não, criticam eles sem qualquer censura , fazem votações on-line para humilhar o alvo de seus ataques.
Essas comunidades afetam os professores de uma forma sucessiva, sendo sua imagem prejudicada e exposta a vários alunos de diferentes séries da escola, que podem, inclusive, participar postando mensagens ofensivas. Os comentários ofensivos são lidos por uma quantidade grande de alunos, criando e disseminando a má fama do professor.
Para Ortega & Jäger (2007), a violência na internet tem efeitos graves para os que dela sofrem e que são diferentes daquelas violências decorrentes de interação face a face, remetendo a uma dinâmica própria. As vítimas não encontram lugares seguros onde possam cortar o contato com os agressores e, além disso, a agressão pode acontecer a qualquer momento, e os espectadores do ato agressivo se multiplicam de maneira surpreendente. Ou seja, a palavra escrita ou a imagem tende a causar um dano maior, pois podem ser lidas ou vistas várias vezes.
Os efeitos do cyberbullying podem ser ainda mais graves que os efeitos das agressões físicas, pois têm potencial muito maior de macular a imagem das vítimas e, de certa forma, é mais seguro para os agressores, por conta do suposto anonimato da rede internet.
Atualmente, pesquisas realizadas com apoio da UNESCO já apontam situações de violência perpetradas por alunos com difamações e ofensas a professores na internet. Abramovay (2009), em pesquisa realizada em Brasília, constatou que 5,3% dos professores entrevistados já havia sido xingados na internet, 4,7% deles já tiveram suas fotos divulgadas sem autorização, 2,3% já sofreram propagação de fofocas maldosas ou segredos por alunos (2,3%). Foram citados, ainda, acontecimentos como ameaças (2%), chantagens (1,7%), invasão de e-mail (1,4%), divulgação de vídeos sem autorização (1,3%) e apropriação de identidade (0,8%) – todos em referência a práticas cometidas por alunos.
As pesquisas refletem uma realidade nacional e têm contribuído para fazer aflorar a questão da insatisfação dos professores no magistério, um tema que tem sido objeto de estudo cada vez mais frequente nos últimos anos, tanto no Brasil como em outros contextos. Fatores como o estresse da profissão, associado ao excesso de trabalho, baixos salários, desvalorização profissional, dificuldades materiais, indisciplina do aluno, e violência na escola, entre outros, são entendidos como causadores do chamado "Mal-estar docente".
Essas situações podem ainda levar à manifestação de uma síndrome denominada Burnout, um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, cuja causa está intimamente ligada à vida profissional. A síndrome de Burnout (do inglês “to burn out”, queimar por completo) foi assim denominada pelo psicanalista nova-iorquino, Freudenberger, após constatá-la em si mesmo, no início dos anos 70.
Do ponto de vista político, vemos ainda a relativa importância (para não dizer pouca) que os sistemas gestores dedicam ao assunto. Segundo a Associação de Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), em 2006, a Secretaria Estadual de Educação registrou 2,3 mil casos de violência contra professores em 2006.
Mesmo tomando conhecimento da gravidade da questão, os sistemas gestores estaduais, parecem se limitar com decisões, provisórias, sem o enfrentamento cuidadoso de um problema que está tendo enorme efeito negativo sob a saúde do professor e desenvolvimento do ensino e aprendizagem de crianças e jovens.
Por outro lado, as escolas devem saber das medidas judiciais que professores podem tomar, e ações pedagógicas que podem ser implementadas. Sem isso, os alunos continuarão a repetir essas atitudes porque terão certeza da impunidade. Vão continuar se sentindo à vontade para denegrir a imagem do professor ou de qualquer outra pessoa. E isso não deve ser permitido, pois pode comprometer a formação do próprio aluno.
È preciso saber que as vítimas de cyberbullying têm o direito de prestar queixa e pedir sanções penais. Caso o autor das ofensas tenha menos de 16 anos, os pais serão processados por injúria, calúnia e difamação; se tiver entre 16 e 18 anos, responderá junto com os pais; e, se for maior, assumirá a responsabilidade pelos crimes. Para garantias legais, salve e imprima as páginas da internet onde foram divulgadas as mensagens de difamação ou ofensa sofrida, procure testemunhas. Preste queixa em delegacia comum ou em uma especializada em crimes virtuais, se houver em sua cidade.
Outras dicas pedagógicas podem ajudar na conscientização dos alunos: dialogue com eles sobre o cyberbullying para que eles não vejam essa atitude como brincadeira. Mostre a repercussão e responsabilidade jurídica que esses atos podem levar. Converse também com os pais, realizem palestras com toda comunidade escolar. Verifique se o regimento interno da escola prevê sanções a quem pratica atos agressivos. Em caso negativo, discuta com colegas e direção a possibilidade de incluir o tema. Inclua sanções nesse regimento tanto para os atos de violência presencial ou virtual.

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