quinta-feira, 19 de março de 2015

Sobre a intimidade na internet: o que cabe à escola?

Publicado no Informativo Nosso Campus, edição FEV/MAR 2015, ano 3, nº 17.

 As transformações tecnológicas que estruturam a nossa sociedade têm desencadeado significativas alterações na produção da cultura e nos modos de percepção. Com isso, surgem outras referências para a constituição dos processos de subjetivação do homem contemporâneo. Agora, estruturados pelas tecnologias, os sujeitos reelaboram suas formas de se relacionar com o tempo e espaço, criam novas maneiras de socialização em rede. A interação mediada pelo computador tem contribuído para transformar o modo como esses indivíduos constituem a si mesmo. Softwares sociais, tais como, Facebook, Google +, Foursquare,Twitter, Tumblr, são espaços de digitalização da vida cotidiana, meios que promovem formatos de exposição da vida íntima e privada.

Em 2008, a Professora Paula Sibilia, da Universidade Federal Fluminense, publicou uma obra intitulada O Show do Eu: a intimidade como espetáculo, no livro, a autora explica de que forma nossa sociedade legitimou uma cultura de exposição de si e observação de outro. Partindo de um estudo sobre a cultura, Paula Sibilia, discute as características das sociedades burguesas do século XIX e XX, marcada pela solidão do seu lar e de seu quarto privado, passando para o século XXI, não mais assinalada pela privacidade das subjetividades na modernidade, voltadas para dentro de “si”, mas para “fora”, acompanhadas pelos olhares alheios, em um mundo marcado pelos estímulos visuais da televisão e internet.
Assim, novas gerações ou não, se mostram cada dia mais em rede internet, sentem necessidade de tornar pública sua intimidade, de mostrar ao mundo como estão vivendo o tempo todo e demonstram como é incompreensível a fronteira da privacidade.
A educação precisa compreender os fenômenos da cultura, de que maneira os processos de socialização são influenciados. Estudos nos indicam que as interações mediadas por computadores atuam nos modos de pensar e agir de todos nós. A este respeito, é bastante oportuno professores entenderem que as tecnologias, os softwares sociais na contemporaneidade tem tornado o ensino mais complexo, com isso, criam desafios didáticos ao trabalho docente.
Em meio a complexidade contemporânea, alguns professores ainda acreditam que seu papel é ensinar os conteúdos dos saberes específicos de sua disciplina, sem articular os saberes da experiência dos alunos, apoiada em uma didática instrumental, aquela que não conecta a cultura e o cotidiano escolar em sua atitude de investigação.
Sendo a Didática um campo que investiga os fundamentos, as condições e os modos de realizar a educação por meio do ensino, nesse contexto de exposição cotidiana, exacerbada de intimidades na internet, professores de diferentes áreas do conhecimento, tem função de tornar essas narrativas de “si” em conteúdos formativos em suas práxis cotidiana.
Sobre os temas discutidos vale a leitura de Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012, da Paula Sibilia, disponível na Biblioteca Prof. Raul Varella Seixas - Campus Salvador, e o livro organizado por mim, A Vida no Orkut: narrativas e aprendizagens nas redes sociais, Salvador: EDUFBA, 2012. Disponível online em: [https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/4999/1/a%20vida%20no%20orkut_RI.pdf]

Boas reflexões!
Profa. Dra. Telma Brito Rocha
Docente de Didática das Licenciaturas Campus Salvador




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