Publicado no Informativo Nosso Campus, edição FEV/MAR 2015, ano 3, nº 17.
As transformações tecnológicas que estruturam a nossa sociedade
têm desencadeado significativas alterações na produção da
cultura e nos modos de percepção. Com isso, surgem outras
referências para a constituição dos processos de subjetivação do
homem contemporâneo. Agora, estruturados pelas tecnologias, os
sujeitos reelaboram suas formas de se relacionar com o tempo e
espaço, criam novas maneiras de socialização em rede. A interação
mediada pelo computador tem contribuído para
transformar o modo como esses indivíduos constituem a si mesmo.
Softwares sociais, tais como, Facebook, Google +, Foursquare,Twitter,
Tumblr, são espaços de digitalização da vida cotidiana, meios que
promovem formatos de exposição da
vida íntima e privada.
Em 2008, a Professora Paula Sibilia, da
Universidade Federal Fluminense, publicou uma obra intitulada O
Show do Eu: a intimidade como espetáculo, no
livro, a autora explica de que forma nossa sociedade legitimou uma
cultura de exposição de si e observação de outro. Partindo de um
estudo sobre a cultura, Paula Sibilia, discute as características
das sociedades burguesas do século XIX e XX, marcada pela solidão
do seu lar e de seu quarto privado, passando para o século XXI, não
mais assinalada pela privacidade das subjetividades na modernidade,
voltadas para dentro de “si”, mas para “fora”, acompanhadas
pelos olhares alheios, em um mundo marcado pelos estímulos visuais
da televisão e internet.
Assim, novas gerações ou não, se mostram
cada dia mais em rede internet, sentem necessidade de tornar pública
sua intimidade, de mostrar ao mundo como estão vivendo o tempo todo
e demonstram como é incompreensível a fronteira da privacidade.
A educação precisa compreender os fenômenos
da cultura, de que maneira os processos de socialização são
influenciados. Estudos nos indicam que as interações mediadas por
computadores atuam nos modos de pensar e agir de todos nós. A este
respeito, é bastante oportuno professores entenderem que as
tecnologias, os softwares sociais na contemporaneidade tem tornado o
ensino mais complexo, com isso, criam desafios didáticos ao trabalho
docente.
Em meio a complexidade contemporânea, alguns
professores ainda acreditam que seu papel é ensinar os conteúdos
dos saberes específicos de sua disciplina, sem articular os saberes
da experiência dos alunos, apoiada em uma didática instrumental,
aquela que não conecta a cultura e o cotidiano escolar em sua
atitude de investigação.
Sendo a Didática um campo que investiga os
fundamentos, as condições e os modos de realizar a educação por
meio do ensino, nesse contexto de exposição cotidiana, exacerbada
de intimidades na internet, professores de diferentes áreas do
conhecimento, tem função de tornar essas narrativas de “si”
em conteúdos formativos em suas práxis cotidiana.
Sobre os temas discutidos vale a leitura de
Redes ou paredes: a escola em tempos
de dispersão. Rio
de Janeiro: Contraponto, 2012, da Paula Sibilia, disponível na
Biblioteca
Prof. Raul
Varella Seixas
- Campus
Salvador, e o livro organizado por mim, A
Vida no Orkut:
narrativas e
aprendizagens nas redes sociais,
Salvador: EDUFBA, 2012. Disponível online
em:
[https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/4999/1/a%20vida%20no%20orkut_RI.pdf]
Boas
reflexões!
Profa.
Dra. Telma Brito Rocha
Docente de
Didática das Licenciaturas Campus Salvador