Cyberbullying - Ódio, Violência Virtual e Profissão Docente
domingo, 25 de novembro de 2012
Conferência na Universidade do Minho dia 07.12.2012
Cyberbullying - Ódio, Violência Virtual e Profissão Docente
Anfiteatro do Instituto de Educação da UMinho - campus de Gualtar, Braga, Portugal
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Bullying: conceito e contextos da violência (Artigo publicado na Revista Ateliê do Colégio Modulo)
Bullying
Expressão
inglesa
derivada
do
adjetivo
bully,
que
significa
valentão
brigão.
Foi
cunhado
pela
primeira
vez
pelo
norueguês
Dan
Olweus
em
1970.
Em
sua
definição,
bullying
refere-se
à
exposição
de
um
indivíduo
ou
grupo
de
indivíduos
a
ações
negativas,
que
envolvem
comportamento
agressivo
e
incomoda
o
outro
por
meio
de
palavras,
ações,
contatos
físicos,
gestos
obscenos,
exclusão,
etc.
Os
estudos
sobre
o
bullying
iniciaram
no
final
dos
anos
60
e
início
dos
anos
70.
Na
época,
as
investigações
ocorreram
na
Escandinávia,
somente
entre
os
anos
80
e
90
é
que
apareceram
no
Japão,
Irlanda,
Reino
Unido,
Austrália
e
Canadá,
entre
outros
países.
Nessa
época
eram
identificados
como
“fenômeno”
ou
“síndrome
social”,
por
se
tratar
de
um
conceito
que
se
constituía
a
soma
de
diversas
características,
consequências,
variáveis
individuais
e
grupais.
A
prática
de
bullying
pode
ser
observada
nas
escolas,
e
em
outros
ambientes
de
trabalho,
na
casa
da
família,
nas
forças
armadas,
prisões,
condomínios
residenciais,
clubes
e
asilos
como
apontam
Smith
e
outros
pesquisadores
(2002)
e
Fante
(2005).
Recentes
pesquisas
demonstram
um
aumento
na
incidência
do
bullying,
e
revelam
que
tais
comportamentos
agressivos
são
usualmente
dirigidos
a
minorias,
com
características
físicas,
socioeconômicas,
de
etnia
e
orientação
sexual,
diferentes
do
“padrão”
de
normalidade
estabelecido
socialmente.
Por
exemplo,
crianças
e
adolescentes
que
possuem
alguma
deficiência
são
mais
alvo
de
bullying
do
que
aquelas
que
são
considerados
"normais".
Ser
diferente
é
um
pretexto
para
que
o
autor
do
bullying
satisfaça
a
sua
necessidade
de
agredir,
ofender
e
humilhar
alguém.
Os
agressores
buscam
em
suas
vítimas
algumas
diferenças
em
relação
ao
grupo
no
qual
estão
inseridos.
Ou
seja,
a
prática
de
bullying
constitui-se
numa
prática
de
preconceito,
de
rejeição
perversa,
que
priva
o
indivíduo,
considerado
diferente
e
inferior,
de
sua
dignidade,
e
de
seu
direito
de
participar
e
existir
socialmente.
Assim,
o
bullying
apresenta
uma
implicação
aos
princípios
democráticos
universais.
Uma
sociedade
que
não
respeita
o
direito
e
a
integridade
física,
moral
de
um
indivíduo,
onde
cada
um
segue
suas
vontades
próprias,
sem
limites
e
respeito
aos
diferentes
grupos
sociais,
contribui
ainda
mais
para
se
estabelecer
violência
e
opressão.
Nesse
sentido,
as
motivações
do
bullying
podem
também
ser
explicadas
na
concepção
que
os
indivíduos
possuem
de
sociedade,
cultura,
das
noções
de
poder,
privilégio
e
respeito.
Mesmo
com
o
aumento
do
bullying
na
escola
e
em
nossa
sociedade
alguns
familiares
de
vítimas
e
agressores
desconhecem
a
incidência
desse
fenômeno,
suas
características,
ou
as
graves
consequências
dos
atos
cruéis
e
intimidadores.
Por
conta
desse
desconhecimento,
ele
é
confundido
com
a
indisciplina
ou
brincadeiras
entre
alunos
ou
grupos
de
alunos,
por
vezes
de
caráter
físico,
que
envolvem
contato
pessoal,
discussões
ou
brigas
corriqueiras,
ocasionais,
em
pares
de
igual
força
e
poder.
Peter
K.
Smith
(2002)
pesquisador
da
University
of
London,
define
bullying
como
um
subconjunto
de
comportamentos
agressivos
de
natureza
repetitiva,
que
se
baseia
numa
relação
de
poder.
Segundo
o
autor,
sua
natureza
repetitiva
se
dá
pelo
fato
de
que
uma
mesma
pessoa
é
alvo
da
agressão
várias
vezes,
pelos
mais
diferentes
motivos,
e
não
pode
se
defender
eficazmente
das
agressões.
Assim,
os
agressores
se
valem
dessa
incapacidade
para
infligir
dano,
seja
porque
alcançaram
algum
tipo
de
gratificação
emocional
com
tal
postura,
seja
porque
pretendem
obter
alguma
vantagem
específica,
como
se
apossar
de
dinheiro
ou
de
objetos
da
vítima,
ou
ainda
solidificar
posições
na
hierarquia
do
grupo
onde
estão
inseridos,
ou
aumentar
sua
popularidade
entre
os
demais
colegas.
É
consenso
na
literatura
autores
concordarem
que
o
bullying
se
manifesta
através
de
comportamentos
agressivos,
baseadas
numa
relação
de
poder.
Costantini
(2004,
p.
69)
afirma
que
[...]
o
bullying
não
são
brigas
normais
que
ocorrem
entre
estudantes,
mas
verdadeiros
atos
de
intimidação
preconcebidos,
ameaças
que
sistematicamente,
com
violência,
física
e
psicológica,
são
repetidamente
impostos
a
indivíduos
particularmente
mais
vulneráveis
e
incapazes
de
se
defenderem,
o
que
leva
a
uma
condição
de
sujeição,
sofrimento
psicológico,
isolamento
e
marginalização.
O
autor
em
sua
definição
ainda
aponta
que
o
bullying,
sendo
uma
prática
de
comportamento
ligada
à
agressividade
física
e
psicológica,
pode
ser
confundido
com
comportamentos
casuais.
Desse
modo,
ele
diferencia
os
comportamentos
normais,
como
agressões
esporádicas
entre
estudantes,
das
práticas
de
bullying,
que
são
intencionais
e
repetitivas
contra
a
mesma
vítima.
O
bullying
pode
se
manifestar
de
maneira
variada,
através
de
violência
física
e
agressões,
linguagem
vulgar,
apelidos,
humilhações,
ameaças,
intimidações,
extorsão,
furtos
e
roubos,
ou
ainda
exclusão
de
um
determinado
grupo.
Martins
(2005)
classifica
o
bullying
da
seguinte
forma:
diretos
e
físicos,
que
incluem
agressões
físicas,
roubar
ou
estragar
objetos
dos
colegas,
extorsão
de
dinheiro,
forçar
comportamentos
sexuais,
obrigar
a
realização
de
atividades
servis,
ou
a
ameaça
desses
itens;
diretos
e
verbais,
que
incluem
insultar,
apelidar,
"tirar
sarro",
fazer
comentários
racistas
ou
que
digam
respeito
a
qualquer
diferença
no
outro;
e
indiretos
que
incluem
a
exclusão
sistemática
de
uma
pessoa,
realização
de
fofocas
e
boatos,
ameaçar
de
exclusão
do
grupo
com
o
objetivo
de
obter
algum
favorecimento,
ou,
de
forma
geral,
manipular
a
vida
social
do
colega.
Assim,
o
bullying
é
um
conceito
bem
definido,
peculiar,
com
características
próprias,
muitas
vezes
antecede
e
indica
as
prováveis
manifestações
mais
amplas
de
violência,
que
podem
não
ser
percebidas.
Exemplo
disso
é
a
violência
nas
escolas,
nos
EUA
e
recentemente
no
Brasil
em
Escola
de
Realengo
no
Rio
de
Janeiro,
que
assemelha
aos
rituais
de
massacre
e
violência
em
escolas
norte-americanas.
A
tragédia
de
Columbine,
em
1999,
na
qual
dois
estudantes,
vítimas
de
bullyiing,
mataram
13
pessoas
em
uma
escola
do
Colorado,
Estados
como
Littleton,
Springfield,
Oregon,
West
Paducah,
Kentucky,
Jonesboro,
comunidades
escolares
também
vivenciaram
tiroteios,
mortes
de
inocentes,
situações
semelhantes
a
de
Columbine.
O
mesmo
ocorreu
em
Virgínia
(leste
dos
EUA),
em
abril
de
2007,
e
chocou
o
país.
O
estudante
sul-coreano
Cho
Seung-Hui
matou
32
pessoas
antes
de
se
matar
no
campus
da
Virginia
Tech,
ao
disparar
mais
de
170
tiros
em
nove
minutos.
O
serviço
secreto
dos
EUA,
juntamente
com
o
Departamento
de
Educação,
ao
analisar
os
casos
de
violência
na
escolas,
apontou
uma
forte
relação
dos
autores
desses
incidentes,
em
algum
momento,
estiveram
envolvidos
em
casos
de
bullying.
(U.S.
SECRET
SERVICE,
2002)
É
forte
a
correlação
entre
autores
de
bullying
e
o
tipo
de
educação
negligente.
Estudos
têm
encontrado
nas
famílias
dos
autores
comportamentos
tais
como,
distância
emocional
entre
os
parentes,
deficiência
afetiva
e
disciplina
inconsistente
na
relação
com
as
crianças.
Para
DeHaan
(1997),
as
crianças
que
experimentam
relações
familiares
marcadas
pela
frieza
e
com
escasso
monitoramento
tendem
a
ser
mais
agressivas.
Carvalhosa
e
outros
autores
(2002)
apontam
correlações
entre
autores
de
bullying
e
convívio
com
pais
pouco
afetivos
e
incapazes
de
elogiar
seus
filhos.
Blaya
e
Hayden
(2002)
agregam
ainda
fatores
econômico-sociais
às
famílias
de
crianças
agressoras.
Para
a
autora,
quando
esses
pais
vivem
sob
forte
tensão,
possuem
grande
incidência
de
desemprego,
trabalho
inseguro
e
de
baixa
remuneração,
são
fatores
que
geram
predisposição
à
agressão.
É
importante
não
negar
a
influência
dos
fatores
familiares
sobre
o
comportamento
de
crianças
e
adolescentes
agressivos.
No
entanto,
devemos
salientar
que
as
explicações
não
devem
ser
absolutas
na
justificativa
dessas
ocorrências.
Essas
análises
não
devem
ser
deterministas,
devem
estar
aliadas
a
outros
fatores
para
que
se
reconheçam
as
variáveis
estruturais
e
contextuais
desse
fenômeno.
Sendo
assim,
o
enfoque
dado
para
tratar
das
influências
dos
agressores
deve
também
ser
explicado
a
partir
dos
fatores
internos
ligados
à
organização
escolar,
os
conflitos
gerados
pelos
adultos
nesses
ambientes,
e
questões
da
personalidade
dos
autores.
Características
da
escola,
suas
normas
e
disciplinas,
a
forma
como
os
professores
lidam
com
os
conflitos,
acabam
por
não
contribuir
com
a
minimização
do
problema.
As
escolas,
muitas
vezes,
para
combater
o
bullying
criticam
e
controlam
de
maneira
punitiva
seus
autores,
o
que
gera
mais
violência
e
revolta.
Os
educadores
precisam
entender
que
as
influências
de
comportamentos
agressivos
são
múltiplas
e
complexas.
Sobre
a
popularidade
dos
autores
de
bullying,
existem
conclusões
distintas.
Fante
(2005,
p.
73,
grifos
nossos)
afirma
que
o
agressor
“[...]
costuma
ser
um
indivíduo
que
manifesta
pouca
empatia”.
[…]
normalmente
se
apresenta
mais
forte
que
seus
companheiros
de
classe
e
que
suas
vítimas
em
particular;
pode
ter
a
mesma
idade
ou
ser
um
pouco
mais
velho
que
suas
vítimas;
pode
ser
fisicamente
superior
nas
brincadeiras,
nos
esportes
e
nas
brigas,
sobretudo
nos
casos
dos
meninos.
[…]
é
mau-caráter;
impulsivo,
irrita-se
facilmente
e
tem
baixa
resistência
a
frustações.
Custa
a
adaptar-se
às
normas.
Adota
condutas
antissociais,
incluindo
o
roubo,
o
vandalismo
e
o
uso
de
álcool,
além
de
sentir
atraído
por
más
companhias.
Também
não
existe
consenso
na
literatura
a
respeito
da
autoestima
dos
autores
de
bullying.
As
visões
mais
tradicionais
vinculam
baixa
autoestima
entre
características
dos
agressores.
Um
estudo
finlandês
identificou
nos
autores
e
naqueles
que
o
apoiam,
algum
tipo
negativo
de
autoestima,
ou
seja,
autoestima
defensiva,
um
tipo
de
personalidade
que
é
incapaz
de
qualquer
autocrítica.
(SALMIVALLI
et.al.,
1999)
No
entanto,
existem
trabalhos
que
evidenciam
o
contrário
e
vinculam
comportamento
agressivo
a
uma
presença
elevada
de
autoestima.
Olweuls
(1993)
assinala
que
os
autores
do
bullying
não
possuem
autoestima
baixa,
e
seus
níveis
de
ansiedade
são
menores
em
relação
às
vítimas.
Por
outro
lado,
a
imagem
de
garoto
(a)
mau,
como
atributo
importante
para
intimidar
outros
colegas,
cometer
ameaças,
não
pode
ser
entendida
como
regra
máxima.
Essas
características
atribuídas
individualmente
não
funcionam
sempre
na
prática
do
bullying.
Um
aluno
fisicamente
fraco
pode
se
revestir
de
muito
poder
e
usar
contra
os
demais.
Neste
caso,
ele
pode
se
aliar
a
um
grupo
de
alunos
e
atuar
em
conjunto.
Aqui,
o
bullying
é
denominado
de
coletivo.
Considerando
que
na
escola
os
alunos
têm
como
características
a
formação
de
grupos
baseados
em
interesses
em
comum,
e
que
existem
ainda
as
divergências
e
conflitos
de
interesses
entre
grupos,
isto
já
é
suficiente
para
existir
um
sentimento
de
rivalidade
e
justificar
a
prática
de
bullying
coletivo.
O
bullying
ainda
apresenta
duas
características
subjetivas
importantes
na
compreensão
desse
fenômeno.
A
satisfação
obtida
pelo
agressor
na
medida
em
que
impõe
sofrimento,
e
a
sensação
da
vítima
de
estar
sendo
oprimida.
Segundo
Pereira
(2009,
p.
32),
os
atos
de
bullying
são
divertidos
porque
[...]
humilham
a
pessoa
vitimada.
Quando
esta
aceita
de
forma
pacífica,
torna-se
alvo
de
chacota
também
para
outros
alunos.
O
agressor
se
sente
bem,
pois
para
a
sua
turma
ele
é
“o
poderoso”,
ele
se
satisfaz
ao
ver
o
riso
dos
colegas
ou
muitas
vezes
se
sentem
vingados
pelas
agressões
ou
humilhações
que
sofrem
em
outros
ambientes,
entre
eles,
o
familiar
ou
simplesmente
porque
a
educação
que
recebem
dos
pais
serve
de
incentivo
à
violência
e
ao
sadismo,
neste
caso
dando-lhe
prazer
ao
ver
o
sofrimento
da
sua
vítima.
Como
se
pode
notar,
os
autores
tratam
o
bullying
como
um
comportamento
agressivo
e
perigoso,
onde
alguém
oferece,
conscientemente,
algum
tipo
de
dano
ou
desconforto
à
outra
pessoa
ou
grupo
de
pessoas.
É
pertinente
considerar
que
os
atos
de
bullying
se
diferenciam
de
brincadeiras
entre
alunos
ou
grupos
de
alunos,
por
vezes
de
caráter
físico,
que
envolve
contato
pessoal,
discussões
ou
brigas
ocasionais
em
pares
de
igual
força
e
poder.
Embora
não
haja
estudos
precisos
sobre
métodos
educativos
familiares
que
incite
o
desenvolvimento
de
alvo
de
bullying,
algumas
atitudes
de
pais
para
com
a
educação
seus
filhos
podem
ser
identificados
como
facilitadores.
Lopes
Neto
(2005,
p.
S167)
apontou
[...]
proteção
excessiva,
gerando
dificuldades
para
enfrentar
os
desafios
e
para
se
defender;
tratamento
infantilizado,
causando
desenvolvimento
psíquico
e
emocional
aquém
do
aceito
pelo
grupo
[...]”
podem
contribuir
para
que
alguém
se
torne
vítima.
Lopes
Neto
(2005)
ainda
aponta
que
é
pouco
comum
que
a
vítima
revele
espontaneamente
o
bullying
sofrido,
seja
por
vergonha,
por
temer
retaliações,
por
descrer
nas
atitudes
favoráveis
da
escola
ou
por
recear
possíveis
críticas.
Na
pesquisa
da
ABRAPIA,
em
2004,
instituição
da
qual
é
cofundadora,
41,6%
dos
alunos
alvos
que
admitiram
não
terem
falado
a
ninguém
sobre
seu
sofrimento.
Para
ele,
o
silêncio
só
é
rompido
quando
os
alvos
sentem
que
serão
ouvidos,
respeitados
e
valorizados.
Conscientizar
as
crianças
e
adolescentes
que
o
bullying
é
inaceitável,
e
que
não
será
tolerado,
permite
o
enfrentamento
do
problema
com
mais
firmeza,
transparência
e
liberdade.
Já
a
vítima
agressiva
é
aquela
que
diante
dos
maus-tratos
que
sofre
reage
igualmente
com
agressividade.
Fante
(2005,
p.
72)
diz
que
“[…]
é
aquele
aluno
que,
tendo
passado
por
situações
de
sofrimento
na
escola,
tende
a
buscar
indivíduos
mais
frágeis
que
ele
para
transformá-los
em
bodes
expiatórios,
na
tentativa
de
transferir
os
maus-tratos
sofridos”.
Exemplo
desse
tipo
de
vítima
foi
o
caso
do
menino
australiano
Casey
Heines,
de
15
anos,
que
depois
de
sofrer
bullying
revidou
com
um
golpe
o
ataque
que
sofria
de
um
colega
de
escola.
Foi
uma
cena
violenta.
Em
2011
esta
imagem
correu
o
mundo.
Para
ver
o
vídeo
acesse:
http://www.youtube.com/watch?v=S7EmG6RdaU0
Segundo
Lopes
Neto
(2005),
a
combinação
da
baixa
autoestima
e
atitudes
agressivas
e
provocativas
é
indicativa
de
uma
criança
ou
adolescente
que
tem
como
razões
para
a
prática
de
bullying,
prováveis
alterações
psicológicas,
devendo
merecer
atenção
especial.
Podem,
segundo
ele,
ser
depressivos,
inseguros
e
inoportunos,
procurando
humilhar
os
colegas
para
encobrir
suas
limitações.
Sintomas
depressivos,
pensamentos
suicidas
e
distúrbios
psiquiátricos
são
mais
frequentes
nesse
grupo.
A
vítima
provocativa,
segundo
Fante
(2005),
é
aquela
que
provoca
e
atrai
reações
agressivas
contra
as
quais
não
consegue
lidar
com
eficiência.
É
geniosa,
tenta
brigar
ou
responder
quando
é
atacada
ou
insultada,
geralmente
de
maneira
ineficaz.
Pode
ser
uma
criança
hiperativa,
inquieta,
dispersiva
e
ofensora.
Ainda
temos
o
grupo
de
testemunhas
que
são
aqueles
que
presenciam
as
agressões
e
não
se
envolvem
diretamente
com
o
bullying.
Geralmente
convivem
com
o
problema,
mas
se
calam
com
medo
de
serem
futuros
alvos.
Para
Fante
(2005)
e
Lopes
Neto
(2005)
as
testemunhas
por
não
saberem
como
agir
e
por
descrerem
nas
atitudes
da
escola,
optam
pelo
clima
de
silêncio,
o
que
contribui
para
que
os
autores
o
afirmem
ainda
mais
seu
poder,
ajudando
a
acobertar
a
prevalência
desses
atos.
A
forma
como
essas
testemunhas
reagem
ao
bullying
permitiu
a
Lopes
Neto
(2005,
p.
S168)
classificá-los
como:
“[...]
auxiliares
(participam
ativamente
da
agressão),
incentivadores
(incitam
e
estimulam
o
autor),
observadores
(só
observam
ou
se
afastam)
ou
defensores
(protegem
o
alvo
ou
chamam
um
adulto
para
interromper
a
agressão)”.
O
autor
aponta
que
muitas
testemunhas
acabam
por
acreditar
que
o
uso
de
comportamentos
agressivos
contra
os
colegas
é
o
melhor
caminho
para
alcançarem
a
popularidade
e
o
poder
e,
por
isso,
tornam-se
autores
de
bullying.
Outros
podem
apresentar
prejuízo
no
aprendizado;
receiam
ser
relacionados
à
figura
do
alvo,
perdendo
seu
status
e
tornando-se
alvos
também;
ou
aderem
ao
bullying
por
pressão
dos
colegas.
Quando
as
testemunhas
interferem
e
tentam
cessar
o
bullying,
essas
ações
são
efetivas
na
maioria
dos
casos.
Como
se
pode
notar,
o
simples
testemunho
de
atos
de
bullying
já
é
suficiente
para
causar
descontentamento
com
a
escola
e
comprometimento
do
desenvolvimento
acadêmico
e
social.
Tomando
as
características
pessoais,
familiares
e
as
várias
correlações
encontradas
na
experiência
de
vitimização,
não
significam,
necessariamente,
uma
causação
absoluta.
Evidentemente,
as
crianças
e
adolescentes
não
são
acometidas
de
maneira
uniforme,
mas
existe
uma
relação
direta
com
a
frequência,
duração
e
severidade
dos
atos
de
bullying.
Conclusão
As
escolas
devem
saber
das
medidas
judiciais
que
professores
e
familiares
podem
tomar
e
ações
pedagógicas
que
podem
ser
implementadas
para
tratar
o
bullying.
Sem
isso,
os
alunos
continuarão
a
repetir
essas
atitudes
porque
terão
certeza
da
impunidade.
Vão
continuar
se
sentindo
à
vontade
para
denegrir
a
imagem
de
colegas
e
até
de
professores
ou
de
qualquer
outra
pessoa.
E
isso
não
deve
ser
permitido,
pois
pode
comprometer
a
formação
do
próprio
aluno.
É preciso saber que as vítimas de bullying têm o direito de prestar queixa e pedir sanções penais. Caso o autor das ofensas tenha menos de 16 anos, os pais serão processados por injúria, calúnia e difamação; se tiver entre 16 e 18 anos, responderá junto com os pais; e, se for maior, assumirá a responsabilidade pelos crimes. Outras dicas pedagógicas são fundamentais e podem ajudar na conscientização dos alunos: dialogue com eles sobre o bullying para que eles não vejam essa atitude como brincadeira. Mostre a repercussão e responsabilidade jurídica que esses atos podem levar. Converse também com os pais, realize palestras com toda comunidade escolar. Verifique se o regimento interno da escola prevê sanções a quem pratica atos agressivos. Em caso negativo, discuta com colegas gestores a possibilidade de incluir o tema. Realize projetos na escola, forme os próprios alunos para que sejam os protagonistas de ações de solidariedade e apoio às vítimas de bullying. Para os familiares, participem mais da vida escolar de seu filho, combata as agressões com diálogo; é preciso participar da comunidade escolar como espaço de aprendizagens, cooperação e formação. Aos docentes, conheça as representações que os alunos possuem sobre a escola, o que pensam sobre este espaço, sua prática pedagógica e reflita sobre elas. Assim, poderemos começar a trilhar um caminho mais eficaz em relação ao combate do bullying na escola e em outros espaços sociais.
É preciso saber que as vítimas de bullying têm o direito de prestar queixa e pedir sanções penais. Caso o autor das ofensas tenha menos de 16 anos, os pais serão processados por injúria, calúnia e difamação; se tiver entre 16 e 18 anos, responderá junto com os pais; e, se for maior, assumirá a responsabilidade pelos crimes. Outras dicas pedagógicas são fundamentais e podem ajudar na conscientização dos alunos: dialogue com eles sobre o bullying para que eles não vejam essa atitude como brincadeira. Mostre a repercussão e responsabilidade jurídica que esses atos podem levar. Converse também com os pais, realize palestras com toda comunidade escolar. Verifique se o regimento interno da escola prevê sanções a quem pratica atos agressivos. Em caso negativo, discuta com colegas gestores a possibilidade de incluir o tema. Realize projetos na escola, forme os próprios alunos para que sejam os protagonistas de ações de solidariedade e apoio às vítimas de bullying. Para os familiares, participem mais da vida escolar de seu filho, combata as agressões com diálogo; é preciso participar da comunidade escolar como espaço de aprendizagens, cooperação e formação. Aos docentes, conheça as representações que os alunos possuem sobre a escola, o que pensam sobre este espaço, sua prática pedagógica e reflita sobre elas. Assim, poderemos começar a trilhar um caminho mais eficaz em relação ao combate do bullying na escola e em outros espaços sociais.
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Sobre
a autora
Pedagoga,
Mestre
e
Doutoranda
em
Educação
(UFBA)
Professora do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia.
Autora
do
livro
Cyberbullying:
ódio,
violência
virtual
e
profissão
docente.
Brasilia:
LiberLivro,
2012;
Co-autora
do
Livro
A
Vida
no
Orkut:
narrativas
e
aprendizagens
nas
redes
sociais,
EDUFBA,
2010.
Mais
informações
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em
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