quarta-feira, 23 de março de 2011

Entrevista concedida ao jornal Diário de São Paulo sobre o caso de bullying do adolescente australiano Casey Heynes que virou hit na internet.

Bullying e o risco do efeito bomba-relógio


Hulk, Zangief, lutador de luta livre. Esses são apenas alguns apelidos que o adolescente australiano Casey Heynes recebeu após ter sido filmado na semana passada, defendendo-se de repetidas agressões de um colega de escola. O garoto aguentava calado e deprimido, enquanto crianças o submetiam a atos de humilhação e violência. Um dia, ele revidou. Aplicou um golpe digno do personagem Zangief, de "Street Fighter". A cena foi filmada e teve milhares de acessos no Youtube, como se Heynes, 15 anos, tivesse agido por todas as pessoas que sofrem bullying.

"Há um momento em que os papéis se invertem. O ser humano acuado explode para sobreviver", diz o psicólogo Dirceu Moreira, autor do livro "Transtorno do Assédio Moral Bullying: A Violência Silenciosa" (Editora Wak), para explicar a atitude de Heynes. Mas não são todas as vítimas que têm coragem de revidar. É comum, aliás, crianças se tornarem mais retraídas e desenvolverem baixa autoestima.


Mas a atitude de Heynes é controversa. Especialistas alertam que combater o bullying com outra violência não é a melhor forma de lidar com o assunto. "Foi uma vitória para ele. Só que Heynes tem sido tratado como herói porque a sociedade acredita que é necessário responder à violência com mais violência. Na verdade, devemos buscar outros caminhos", diz a educadora Telma Brito Rocha.

Os pais e educadores, muitas vezes, ignoram a prática de bullying. Mas, se as humilhações forem identificadas, os responsáveis pelo agressor devem ser chamados para uma conversa mediada pela escola.

O alvo / Segundo a educadora Telma, a popularidade do caso Heynes é importante para gerar a discussão sobre o problema e mostrar que ele pode acontecer com qualquer pessoa, independente de seu porte físico - Heynes é um garoto forte. "Ele desconstrói a lógica de que o bullying ocorre com pessoas frágeis e mostra que há a chance do revide."

O perigo, no entanto, é a vítima se tornar agressora. A partir do momento da reação, ela descobre possuir uma força que não sabia que tinha e, em muitos casos, pode descontar os anos de humilhação em outras pessoas. Por isso, é preciso tomar cuidado com a inversão de papéis.

A vítima se torna herói
De garoto impopular e com poucos amigos, o gordinho Heynes se tornou um herói. Foram criadas duas páginas no Facebook em sua homenagem e ele também se tornou estrela de jogos de animação.

200.000
pessoas curtiram Heynes no Facebook

A solução pode estar na ação judicial
Quando a escola falha em ajudar a vítima, muitos pais acionam a Justiça contra os responsáveis pelos agressores de seus filhos. Como afirma o psicólogo Moreira, "quem responde pelas crianças são os pais e quando afeta o bolso dói. A dor moral vem cobrar a dor financeira". Para ele,
no entanto, essa não é a forma indicada de lidar com o problema, mas "pelo menos serve para alertar",


O outro lado: a versão do agressor
No início da semana, o agressor de Heynes, Richard Gale, 13, concedeu uma entrevista ao programa "Today Tonight" onde afirmou que teria sido provocado pelo próprio Heynes . Também alegou já ter sofrido bullying.

Assista a entrevista:



Como saber se seu filho está sofrendo bullying
Ele demonstra tristeza constantemente. Não tem vontade de frequentar a escola. Demonstra não ter amigos. Teve piora no rendimento escolar. Apresenta marcas pelo corpo.

Veja agora o vídeo de Casey se defendendo das agressões do colega na escola:


Luana Lila (Diário de SP)